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OSN UFF – Territórios Sonoros: Villa-Lobos / Stravinsky
29/06-10:30 > 12:00

Por definição, territórios são espaços delimitados, controlados por grupos sociais, políticos ou culturais. Podem ser físicos ou simbólicos e expressam relações de poder, identidade e pertencimento. Eles vão além da geografia, incluem também aspectos sociais, históricos e afetivos. Territórios são delimitados por fronteiras, que simplificando, são filtros para o trânsito de pessoas, informações, recursos, entre outros. No programa de hoje, Territórios Sonoros: Villa-Lobos – Stravinsky, sugerimos territórios e fronteiras permeáveis representando uma visão dinâmica e fluida do espaço das relações artísticas. Diferente das fronteiras rígidas, que separam e excluem, as permeáveis permitem trocas culturais e sociais, abrindo diálogos e colaboração, reconhecendo a complexidade das identidades, onde diferenças coexistem e novas realidades emergem.
Villa-Lobos e Stravinsky são compositores reconhecidos como expoentes do movimento Modernista/Nacionalista, que tem início nas primeiras décadas do século XX e tinha como premissa expressar a identidade cultural e política de cada país através da arte. No programa de hoje teremos a oportunidade de apreciar duas grandes obras compostas em momentos distintos das carreiras de cada compositor que, apesar de carregarem a proposta de uma identidade composicional e de Território, são influenciadas por outras culturas e outros compositores, resultando em obras universais e atemporais.
De Heitor Villa-Lobos (1887-1959), Bachianas Brasileiras nº 9, composta em 1945, é a última obra da série onde o compositor, já reconhecido mundialmente como o grande compositor brasileiro, codifica elementos da cultura brasileira para criar uma obra singular. Entretanto, a “fronteira” permeável do território artístico de Villa permite a entrada e a influência do compositor do barroco alemão Johann Sebastian Bach. Bachianas Brasileiras Nº 9 para orquestra de cordas, que possui uma versão do próprio compositor para coral, é uma obra em dois movimentos, Prelúdio e Fuga, interpretados sem interrupção. O Prelúdio é lento, com a melodia inicial acompanhado por longas notas, dando um caráter introdutório à obra, que aos poucos atinge uma textura mais densa, levando ao segundo movimento: Fuga. Forma polifônica associada a Bach e desenvolvida no período barroco, é tratada por Villa de forma bastante livre, expondo o tema que na sequência é imitado por entradas sucessivas dos diferentes naipes até a conclusão da obra. Nas fronteiras de seu Território, Villa-Lobos uni a rigidez da forma barroca com a liberdade melódica e rítmica da música brasileira.
Ígor Fiódorovitch Stravinsky (1882-1971), compositor, regente e pianista russo, tem sua carreira composicional dividida em três períodos principais: russo (1913-1920), neoclássico (1920-1951) e serial (1954-1968). A Sinfonia nº 1 em Mi bemol, Op. 1 (1905-1907), escrita entre seus 23 e 25 anos de idade, é de um jovem aluno de composição. Nesta época, Stravinsky era aluno de composição de Rimsky-Korsakov, que o incentivou a escrever sua primeira obra para orquestra completa. Assim, a Sinfonia nº 1 é a primeira obra oficial de Stravinsky, que já apresenta elementos da poesia, música e cultura russa, características fundamentais de sua obra. Entretanto, as fronteiras do território composicional de Stravisky estavam sendo construídas, pois podemos observar as influências musicais dos compatriotas Korsakov, Tchaikovsky, Glazunov, mas também do austríaco Strauss e do alemão Wagner presentes nesta primeira sinfonia, canalizando todo o espírito do alto romantismo russo da época. Nos anos seguintes, surgiria sua revolução estilística, evidenciada nas obras como O Pássaro de Fogo, Petrushka e A Sagração da Primavera.
Embora seja plausível que os dois compositores tenham se cruzado em alguma ocasião, principalmente em Paris durante os anos que Villa-Lobos residiu na capital francesa, pois a literatura aponta círculos artísticos e sociais em comum para os dois compositores, não há registro de um encontro significativo ou de diálogo artístico entre Villa-Lobos e Stravinsky. Ainda assim, ambos foram pilares de uma música do século XX enraizada nas tradições nacionais e aberta à experimentação moderna, afirmando territórios com fronteiras permeáveis de trocas.
Deivison Branco
Comissão Artística OSN UFF 2025/26
Marcelo Falcão – Regente
É bacharel em Musicologia e História da Arte pela Universidade Humboldt (Berlim) e mestre em regência orquestral pela Royal Welsh College of Music and Drama, em Cardiff, onde concluiu seus estudos com mérito. É maestro assistente da Orquestra Sinfônica de Santo André e dirige, como regente convidado, a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF e a Orquestra Sinfônica do Theatro São Pedro, onde é o diretor musical da série Cine São Pedro desde 2023. Realizou a direção musical e regência da primeira “Mostra de Cinema do Theatro São Pedro: Brasil-Alemanha” (2025) com a orquestra do teatro, em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Instituto Goethe. No mesmo teatro, realizou o trabalho de pesquisa e restauração da trilha original do filme Caiçara de 1950, composta por Francisco Mignone. Após mais de 70 anos, o público pode desfrutar do filme com a trilha sonora realizada pela orquestra, ao vivo.
Na Alemanha, foi fundador e regente titular da Babylon Orchester, a orquestra residente no lendário cinema Babylon em Berlim. Dirigiu mais de uma centena de apresentações de cine-concertos, apresentando clássicos como Metropolis, Nosferatu entre outros, além da premiere alemã do filme restaurado Novo Babylon, com música original de Shostakovich. Participou do Taschenopern Festival de Salzburg, regendo a ópera “O Beijo” de Wolfgang Mitterer, onde trabalhou com membros do Schönberg Ensemble e Neue Vocalsolisten Stuttgart.
Foi regente no Ateliê Contemporâneo em São Paulo, onde apresentou performances de Pierrot Lunaire de Schönberg, em português, e estreou obras de compositores brasileiros. Regeu orquestras como Nacional da Rússia, Nacional Filarmônica da Geórgia, Argovia Philharmonic, Berlin Sinfonietta, MÀV Budapest Orchestra, Orquestra Jovem de São Petersburgo e grupos de música contemporânea como o Divertimento Ensemble na Itália e Ensemble NAMES, Salzburg. Obteve o segundo lugar no concurso internacional de regência de orquestra da Ópera de Baugé (França) e foi semifinalista na competição de regência de música moderna e contemporânea na Città di Brescia, na Itália.
Programa
Heitor VILLA-LOBOS (1887 – 1959)
Bachianas Brasileiras nº 9 (1945)
(Para orquestra de cordas)
Prelúdio
Fuga
Ígor Fiódorovitch STRAVINSKY (1882-1971)
Sinfonia nº 1 em Mi bemol, Op. 1 (1905-1907)
Allegro moderato
Scherzo: Allegretto
Largo
Finale: Allegro molto
29 de Junho de 2025
Domingo | 10h30
Cine Arte UFF
Rua Miguel de Frias, 9 – Icaraí – Niterói
Ingressos: R$40 (inteira) – R$ 20 (meia)
Canais de venda: Guichê Web e Bilheteria