
OSN – Música das Américas
11/05-10:30 > 11:30

A música de concerto nas Américas cria uma identidade própria a partir do fim do século XIX, com o surgimento do movimento nacionalista. Os Estados Unidos, muito inspirados pelas ideias de Dvorak, constroem uma identidade sonora que tem, dentre outras influências, o jazz, o blues e o canto negro espiritual como bases identitárias para composições. Nas Américas Central e do Sul, os cantos populares, somados às fortes influências rítmicas dos povos africanos e indígenas, também são matéria prima para os compositores.
Abrindo o programa, a orquestra interpreta a obra “Eu, Mulher” da compositora e pianista Juliana Ripke (1988). Ripke é uma das novas vozes da música de concerto no Brasil. Doutora em musicologia pela USP, atua como pianista, professora e pesquisadora, com foco na obra de Villa-Lobos. Suas composições muitas vezes são inspiradas em textos literários e têm sido interpretadas por importantes orquestras e coros do país. “Eu, Mulher”, originalmente escrita para coral, parte de um texto da escritora mineira Conceição Evaristo, autora com quem Ripke mantém parceria criativa. Nesta versão para orquestra sinfônica, a obra percorre caminhos harmônicos sinuosos até chegar a um refrão recorrente e poderoso: Eu fêmea-matriz. Eu força-motriz. Nas palavras da compositora “no clímax final, a música traduz a força vital da mulher como abrigo da semente, moto-contínuo do mundo”.
O compositor e violinista Álvaro Carriello (1985) vem se destacando na cena da música de concerto contemporânea, com obras já apresentadas no Brasil e na Europa. Premiado pela Rádio MEC em 2022 e integrante do álbum Violins of OSESP, Carriello busca equilibrar tradição e identidade em sua escrita musical. “Fantasia Concertante” reflete essa proposta ao unir elementos da linguagem sinfônica universal à poética musical brasileira, sem recorrer a clichês nacionalistas. Para o compositor, ele “constrói uma narrativa sonora que é ao mesmo tempo pessoal e coletiva, atual e enraizada. A obra convida o ouvinte a uma escuta sensível, onde o lirismo e a experimentação coexistem em busca de uma música que emociona e faz pensar”.
Nascida na Venezuela, Teresa Carreño foi aclamada internacionalmente na Europa e nos Estados Unidos como uma virtuose do piano – chamada por alguns de “Valquíria do Piano”, por suas interpretações enérgicas. Sua família emigrou para Nova York quando ela tinha oito anos. Como compositora, Carreño concentrou-se em obras de pequeno porte, principalmente para piano solo, apresentadas em concertos de música de câmara, escrevendo poucas obras de maior envergadura, incluindo seu único Quarteto de Cordas, “Quarteto em Si menor”, composto em 1896. No concerto, ouviremos uma versão do 2º movimento deste Quarteto, o “Andante com Largheza”, que regularmente é apresentado como obra individual em concertos e revela um domínio apurado da forma, estrutura, desenvolvimento e técnica da compositora.
Em 2009, no sótão de uma casa perto de Chicago, foram descobertas partituras esquecidas de uma compositora até então pouco conhecida. Florence Price (1887-1953), primeira mulher negra a ter uma obra sinfônica executada por uma grande orquestra nos EUA, nasceu no Arkansas e formou-se no Conservatório de Boston. Mudou-se para Chicago em 1927, fugindo da violência racial do sul, buscando novas oportunidades e mergulhando no fervor artístico do renascimento negro. Redescoberta décadas depois, Price hoje é celebrada como uma voz singular da música americana. Sua sinfonia é mais que uma peça orquestral: é símbolo de resiliência, talento e reconhecimento tardio. A obra que conclui o programa de hoje, a Sinfonia n. 1 em Mi menor, escrita em 1931, mistura tradição europeia e elementos afro-americanos. Com quatro movimentos, inclui um tocante hino de metais no segundo movimento e um animado “Juba”, dança de raízes africanas, no terceiro. A obra venceu o concurso nacional de composição e estreou em 1933 com a Orquestra Sinfônica de Chicago, um marco histórico. Observe a sonoridade característica da música estadunidense, que nos transporta as imagens dos filmes do velho oeste americano.
Bom concerto!
Deivison Branco
Comissão artística da OSN UFF 2025/26
PROGRAMA
Juliana RIPKE (1988)
Eu-Mulher: canções sem palavras nº 2 para Orquestra (2021)
Orquestração de Paulo Galvão Filho
Álvaro CARRIELLO (1985)
Fantasia Concertante para Orquestra Sinfônica (2023)
Estreia mundial
Teresa CARREÑO (1853 – 1917)
Andante com Largheza (1896)
2º movimento do Quarteto em Si menor
Florence PRICE (1887 – 1953)
Sinfonia n.1 em Mi menor (1932)
I – Allegro ma non troppo
II- Largo, majestoso
III- Juba Dance, alegro
IV- Finale, presto
11 de Maio de 2025
Domingo | 10h30
Cine Arte UFF
Rua Miguel de Frias, 9 – Icaraí – Niterói
Ingressos: R$50 (inteira) – R$ 25 (meia)
Canais de venda: Guichê Web e Bilheteria