O ano era o de 1985. O local era o Departamento de Difusão Cultural (DDC-UFF), nome pretérito do atual Centro de Artes da UFF.  A efeméride era o jubileu de prata da fundação da Universidade Federal Fluminense. O mês era abril, mês em que estreou um novo e longevo grupo de câmara, o Quarteto de Cordas da UFF.

É com grande alegria e entusiasmo que aguardamos a chegada dessa comemoração. Foram quatro décadas de muitas experiências, estreias de novas obras, viagens pelo interior do estado do RJ, por algumas localidades do país, da América Latina e da Europa. Não obstante, a majoritária atuação em apresentações musicais, oficinas de performance musical, workshops sempre ocorreu nesta terra Araribóia.

A proposta desse concerto é rememorar aquilo que foi vivido pelos artistas fundadores, Paulo Bosisio (1º violino), Paulo Keuffer (2º violino/in memorian), Nayran Pessanha (viola) e David Chew (violoncelo) e todo o público presente no dia 18 de abril de 1985, data da estreia do grupo no Teatro da UFF.

O programa começa com o Quarteto de cordas nº 17, em Si bemol maior, K. 458 “A Caça” de Wolfgang Amadeus Mozart. Esta obra foi concluída em 1784 e faz parte de uma coletânea de seis quartetos, compostos entre 1782 e 1785, dedicados ao seu amigo e inspiração para este projeto, Franz Joseph Haydn. Mozart havia conhecido Haydn pessoalmente em 1781 e ficou muito impressionado com a qualidade composicional observada nos quartetos op. 3, de Haydn. Não se sabe a quem se atribui este apelido “A Caça”, mas a referência está nos primeiros compassos desta peça nas partes de primeiro e segundo violino e remetem a duas trompas de caça tocando em duo.

A segunda obra é o “Quarteto de Cordas n.º1” do compositor Odemar Brígido. Carioca, nascido em 1941, Brígido foi servidor da UFF e atuava como compositor, além de ministrar aulas no curso de extensão de composição musical e orquestração nessa universidade. Também foi professor do curso superior de música do Conservatório de Música de Niterói. Teve suas obras executadas nas Bienais de Música Brasileira Contemporânea, promovida pela FUNARTE-MINC, além de apresentações de suas composições na Alemanha, Suíça, França e Grécia. Esta obra foi executada pela primeira formação do Quarteto de Cordas da UFF em Londres, com transmissão radiofônica realizada pela BBC para as Américas. O compositor faleceu em 2013.

O quarteto é dividido em três movimentos contrastantes. A rítmica sincopada e as tercinas permeiam toda a obra trazendo um senso de unidade e exaltando a brasilidade de sua escrita.

Para finalizar este programa, o Quarteto n.º 1 de Heitor Villa-Lobos, composto no ano de 1915 na cidade de Nova Friburgo, foi concebido no formato de uma suite com seis movimentos. O movimento final remete a um personagem icônico da tradição oral brasileira. Villa-lobos sugere que este movimento seja uma descrição sonora do Saci Pererê, pulando com uma perna só, com um cachimbo na boca e pegando as pessoas de surpresa com suas travessuras.

Ao longo desta temporada, a história do Quarteto de Cordas da UFF será contada através de concertos especiais, homenagens a figuras emblemáticas da história deste grupo e programas cuidadosamente escolhidos e trabalhados para o deleite da audiência. Agradecemos a presença de todos. Um excelente concerto!

Tomaz Soares, março 2025

Programa

Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Quarteto de cordas nº 17, em Si bemol maior, K. 458 “A Caça”
Allegro vivace assai
Menuetto. Moderato – Trio
Adagio
Allegro assai 

Odemar BRÍGIDO (1941-2013)*
Quarteto de cordas n.º 1
Allegro
Lento
Allegro ma non troppo 

* Agradecimento especial ao Maestro Roberto Duarte pelo fornecimento da partitura, preparo das partes cavadas desta obra e pelo precioso trabalho de revisão realizado em 2014.

Heitor VILLA-LOBOS (1887-1959)
Quarteto de cordas n° 1
I. Cantilena (Andante)
II. Brincadeira (Allegretto scherzando)
III. Canto lírico (Moderato)
IV. Cançoneta (Andantino quasi allegretto)
V. Melancolia (Lento)
VI. Saltando como um Saci (Allegro)

01 de Abril de 2025
Terça | 19h
Teatro da UFF
Rua Miguel de Frias, 9 – Icaraí – Niterói
Ingressos: R$ 30 (inteira) – R$ 15 (meia)
Canais de venda: Guichê Web e Bilheteria
Classificação Indicativa:  livre